História da Fat Bike

Tudo o que você queria saber sobre as Fat Bikes

As fat bikes fazem parte do setor da indústria de bicicletas que apresenta maior crescimento, e isso se dá ao fato delas já terem rodado como experimento (tentativas e erros) a distância equivalente a extensão total de todos os territórios dos continentes, tropicais e gelados. É a forma mais simples de locomoção individual em ambientes hostis, indo onde antes só se chegava com veículos especiais, como jipes, motocicletas, veículos de esteira e snowmobiles (moto da neve), fato inimaginável no surgimento do MTB.

Biker a 10 graus negativos nos EUA
Biker enfrenta temperatura de 10º negativos em Milwaukee no Wisconsin – Estados Unidos.
Dunas perfeitas para fat bike
Nas dunas de Point Reyes na California, uma pausa para contemplar o por-do-sol.

A história

A história completa sobre o surgimento das fat bikes foi contada na Interbike 2014, e a Pedaleria estava lá para conferir e trazer pra você. Na feira, explorando o grande espaço destinado a elas, descobrimos a historia completa, com modelos antigos de quadros, aros e pneus, e através da linha do tempo apresentada lá descobrimos detalhes interessantes e muita paixão desses verdadeiros desbravadores dos desertos e montanhas geladas. Confira os principais fatos históricos dessa modalidade incrível.

Linha do tempo da história das fat bikes
A distribuidora de bicicletas QBP montou na Interbike a linha do tempo das fat bikes, contando como tudo começou.
A união de dois aros começou
Em 1986 dois aros eram unidos por solda ou parafusos, obtendo-se assim um aro mais largo (abaixo a esquerda).

O início

O desenvolvimento atual do MTB foi muito importante para o sucesso das fat bikes, que utilizam hoje as melhores soluções e materiais desenvolvidos e trabalhados a vários anos, fazendo delas, máquinas sofisticadas e bem mais leves.

Nos anos 70 e 80, um bando de aficionados e os mais engenhosos ciclistas da Califórnia e Colorado modificavam e melhoravam bicicletas single speed (sem marchas) para desbravarem terrenos acidentados, tanto nas subidas íngremes quanto nas descidas pelo meio das florestas, no inverno e no verão.

O uso de pneus balão mostrava-se eficiente, melhorando a performance, e a necessidade fez surgir também freios mais poderosos como o cantilever, muito necessários devido as intempéries e ângulos dos terrenos escolhidos para pedalar, mostrando que os locais com piso bom como estradas asfaltadas e pistas de terra batida não eram os únicos locais a se explorar com uma bicicleta, estradas vicinais, trilhas madeireiras, estradas de mineração e superfícies geladas foram incluídas nas rotas de exploração, lazer e competição.

A partir de 1980 as bikes de MTB e Road estavam mais rápidas, mas faltava explorar outros espaços, e a modalidade da fat bike permitia essa exploração numa grande diversidade de terrenos e superfícies “pedaláveis”, como areia, lama e neve, possibilitando o uso bicicleta em qualquer situação.

Iditabike

A exploração e desenvolvimento de regiões remotas como o Alaska e o sul do Novo México, combinadas com a chegada no Mountain Bike na década de 80, fez surgir dezenas de adaptações para permitir o uso das bikes na areia e na neve, e em 1987 foi criado o primeiro evento para esse tipo de bicicleta, o Iditabike, que desafiou ciclistas a viajarem por 200km de trilhas e estradas geladas no Alaska durante o inverno, seguindo snowmobiles e trenós puxados por cães. O nome do evento foi uma homenagem a histórica travessia de trenós puxados por cães “Iditarod”, porém com mil milhas a mais de extensão.

Nessa travessia inicial passando por áreas congeladas, áreas com neve fofa e trechos molhados por conta do degelo, todos tiveram que empurrar as bicicletas por quilômetros, onde verificou-se a necessidade de usar pneus mais largos, vistos mais tarde em novas versões do evento.

img_Rota_Iditarod_02
Em meados da década de 80, rotas antes explorada apenas por trenós puxados a cães começaram a ser procuradas por ciclistas.

No início, aros eram soldados ou parafusados lado a lado, dobrando a largura do pneu e permitindo ao ciclista pedalar mais e empurrar menos, e isso ajudava bastante. Já outros inventos como o Six Pack, que utilizava três aros e pneus individuais para cada roda e montados em um quadro feito a mão, saiam-se melhor. O conceito dos aros largos foi melhorando e logo as duas paredes internas foram removidas dos aros para receber um único pneu com maior área, que podia ser usado com baixa pressão.

Na sequência Simon Rakowe lança o aro Snowcat, com 44mm de largura e podia ser usado na maioria dos quadros de MTB, esses foram equipamentos de série das bicicletas vendidas durante o inverno no Alaska por muitos anos.

O primeiro aro para fat bike
O primeiro aro largo para fat bike com produção em série foi o Snowcat 44.

Aro Remolino

No mesmo período, o ciclista Ray Molina explorava áreas do sul do Novo México, vencendo dunas de areia e outras dificuldades. Ray lançou em pouco tempo aros com 82mm de largura (aros Remolino), montados com pneus Chevron 3,5 polegadas. Ele fez vários quadros especiais para acomodar essa rodagem e, na Interbike de 1999, Mark Groneweld levou esses aros para o Alaska para equipar suas bikes especiais Wildfire equipadas com pneus Nokian Gazzaloddi ou Specialized Big Hit, ambos emprestados do Downhill, criando assim as primeiras fat bikes modernas.

Com tamanha vontade e também necessidade, Ray e seu aro Remolino utilizavam pneus fabricados na mesma máquina que produzia os pneus do Ford modelo T para reposição no início de século 20. A máquina era adaptada e recebia um molde interno para diminuir o espaço de injeção de borracha, criando um pneu mais leve. Ray Molina fabricava em 1999 quase todos os componentes da fat bike que produzia.

John Evingson de Ancourage Alaska também fez fama, criando bikes customizadas equipadas com aros Remolino e pneus 3.0.

Quase lá. Remolino, uma das primeiras fat bikes da história
A bike Remolino – pré-produção que oferecia uma solução quase completas aos usuários.
Detalhe da Bike Remolino Fatty
Note como o câmbio dianteiro é projetado para fora, criando um desalinhamento no tubo do canote do selim.
O primeiro aro para Fat Bike, Remolino
O aro Remolino utilizava duas câmaras de ar MTB aro 26 já que a câmara maior era difícil de encontrar.

E a história continua…

Rotas de longas distâncias e competições continuaram até 1990 no Alaska, até que no ano 2000 Mike Curiak do Colorado venceu a primeira corrida Iditasport Impossible, pedalando e empurrando sua bike por mil quilômetros em 15 dias, sendo provavelmente a maior conquista das fat bikes até hoje. Ele pilotou uma Willits, bike feita a mão por Wes Willians do Colorado, equipada com aros Remolino e pneus 3.0. Essa bicicleta está exposta no museu Absolute Bikes em Salida, Colorado.

Até 2005, itens como aros, pneus, cubos e pedivelas especiais para fat bikes eram muito difíceis de ser encontrados em outras regiões, obrigando os usuários a correr para oficinas e ateliers especializados nessas adaptações.

Peças customizadas na primeira Fat Bike
Peças convencionais e customizadas lado a lado no projeto de Ray Molina.

Ainda em 2005 surge a Surly Pugsley, empresa que fabricava quadros, peças e acessórios desde 1998, com sede em Bloomington, Minnesota, eles mudaram drasticamente o cenário das fat bikes, lançando uma bike completa. O modelo foi equipado com aros de 65mm de largura e pneus Endomorph 3.7, era o nascimento oficial das fat bikes modernas. A Pugsly estava disponível em quase todas as lojas dos Estados Unidos, distribuída por uma das mais conceituadas redes (QBP). A bike usava peças simples de MTB, inclusive os cubos, mostrando a outros fabricantes a possibilidade de fazer o produto de forma mais simples e popular, sendo seguida rapidamente por diversas marcas do mercado.

A primeira fat bike oficial. Surly Pugsley
A primeira bike completa de fábrica foi a Surly Pugsley purple 2005 (roxa grosseira!).
Fat bike da Surly com freios a disco
A atual e ainda de Cromo-Molibdênio Surly Moonlander com freios a disco.
O quadro é rico em detalhes, e a construção impecável.
O quadro é rico em detalhes, e a construção impecável.

Em 2007 a marca Fatback de Anchorage lança seus modelos com quadros de alumínio, cubos com 160, 170 e também 190mm de largura, aros de 70 e 90mm de largura, trazendo  modernidade ao projeto. Com estes materiais, a bike tinha mais flutuação e menos peso.

As marcas Salsa e Surly lançam fat bikes completas, distribuídas pela QBP dando um grande salto de vendas. Hoje em dia, mais de uma dúzia de fabricantes oferecem bicicletas completas, com melhorias como quadros hidroformados em alumínio, suspensões, quadros e componentes em fibra de carbono, freios a disco e até motores elétricos.

fat bike Cogburn
A Fat de caçador, Cogburn CB4 super equipada.
Solução da fat bike da Salsa para pedalar no frio intenso
A Salsa, empresa que tem uma relação muito intensa com a modalidade, apresentou seu modelo Carbon Beargrease 2014 com luvas térmicas no gudião.
Fat bike full suspension e de carbono
A cara e completa Salsa Bucksaw Carbon 2015, full suspension com aros Whiski nº 9 em fibra de carbono.
Os aros atuais fabricados em alumínio possuem vários furos para alívio de peso, já os modelos em fibra de carbono são fechados.
Os aros atuais fabricados em alumínio possuem vários furos para alívio de peso, já os modelos em fibra de carbono são fechados.

Espero que você tenha gostado de conhecer um pouco mais sobre a história dessa fantástica bike que revolucionou o mercado, chegou pra ficar e encantar ciclistas no mundo todo. É só o começo, nos EUA presenciamos o crescimento acelerado do mercado para essas bikes e do aumento vertiginoso das vendas desses modelos nas lojas.

Expositores apresentavam na Interbike 2014 muitas novidades relacionadas a fat bikes e a gente reza para que tamanha vontade e competência também sirvam de espelho para o Brasil, para que os importadores consigam trazer essas maravilhas pra gente e assim curtirmos a imensidão desse nosso amado país a bordo de fat bikes de qualidade.

Bom Pedal!

Edu Capivara
WRITTEN BY

Edu Capivara

Edu Capivara é Delegado Internacional do Biketrial no Brasil desde 1991 e introdutor do esporte em meados da década de 80. É amigo pessoal de Pedro Pi, o inventor do Biketrial e de toda a cúpula da BIU (Biketrial International Union) . Profundo conhecedor do mundo da bike, começou suas aventuras em modalidades como o BMX e o Mountain Bike no início desses esportes no Brasil. Já participou de campeonatos mundiais de biketrial pelo mundo todo, inclusive do primeiro, em 1986 na Europa.

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