Motivos para não ser um ciclochato

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Em se tratando de transporte, estamos cercados por diversos modais, alguns incomodam mais, outros menos, e alguns não incomodam nem poluem nada. É o caso da nossa inseparável amiga bicicleta. Para nós ciclistas, profissionais ou não, pedalar é a melhor coisa que existe.

Resolvemos escrever esta matéria para brindar a coerência, deixar de lado o radicalismo e pensarmos nas praticidades que o mundo moderno oferece, e sem entrar em questões polêmicas vamos abordar como seria o mundo dominado pela bicicletas, ou seja, nada de veículos. Veja bem, não é uma apologia ao uso dos vilões da poluição mas sim uma forma de encarar o inevitável e o atual cenário mundial, principalmente nas grandes cidades. Bike sim, claro, obviamente é o preferido da Pedaleria, mas em certas ocasiões, não tem como evitar, a gente acaba tendo que apelar para um veículo motorizado.

Imagine você nas situações que vamos descrever e analise se não é verdade que ainda dependemos muito do automóvel e dos veículos de transporte coletivo. Se a regra para alguns é radicalizar de vez, pra gente é uma questão de bom senso e participação, caso contrário, teremos um monte de ciclochatos por aí pregando uma utopia, a abolição do automóvel no planeta Terra.

Crianças na escola

Posso até tentar, mas levar as minhas filhas para a escola de bicicleta seria insano. Uma criança de 3 e outra de 6 anos não podem ir para a escola sozinhas, muito menos de bike; eu com uma carretinha, puxando as meninas com minha bike no meio do trânsito pesado da manhã, também seria uma tarefa perigosa. E fico imaginando a volta, enfrentando uma incrível ladeira para chegar no bairro em que moro.

Levando as crianças pra escola.
Sensação de segurança quando levamos e buscamos nossos filhos na escola.

Não as deixo ir com o ônibus da escola por causa da sensação de insegurança que temos em São Paulo, principalmente. Não quero tolir a idéia de se usar a bicicleta para essa finalidade, mas depende da cidade onde você mora, infelizmente não tem acordo, tem que ir de carro mesmo. Quem dera tivéssemos uma malha cicloviária de respeito e uma estrutura urbana planejada, aí sim, não me importaria com o tempo da viagem ou com o suor, a bicicleta seria o meu veículo da família.

Supermercado

Ir até o supermercado de bike e comprar uma sacolinha, beleza. Quero ver com a compra do mês, e aí da-lhe automóvel novamente, se não for o seu, vai ser o de alguém, uma carona ou um taxi. Geralmente volto do supermercado com no mínimo 4 sacolas retornáveis e uma caixa de leite. Benza Deus carregar tudo isso na bicicleta, e ainda mais no subidão que comentei agora a pouco. O automóvel é necessário nesse caso também. Claro que, se houver bom senso, o ciclista pode ser muito ativo e depender menos do carro, mesmo indo ao supermercado a “conta-gotas”.

Dá pra fazer compras pequenas indo de bike, mas a compra do mês, só de carro.
Dá pra fazer compras pequenas indo de bike, mas a compra do mês, só de carro.

Problemas de saúde e emergências

Para quem tem problemas de saúde, e não precisam ser graves, mesmo com uma bicicleta elétrica, seria muito complicado se locomover dentro da cidade por motivos óbvios, essas pessoas precisam mais do automóvel do que da bicicleta. Em uma emergência, as ambulâncias seriam movidas a pedal? Claro que não. Os bombeiros e a policia atenderiam da mesma maneira? Tá certo que os bandidos só teriam a bicicleta pra sair correndo da polícia, mas, não tem algo estranho em tudo isso?

Trilha legal, mas é longe pra burro da minha cidade

O mesmo cara que reclama do trânsito infernal e que talvez seja um ciclochato, em determinado momento ele vai precisar de um carro, um ônibus, metrô, ou tanto faz. Não adianta pregar por aí que o mundo será salvo pelas bicicletas porque isso não é verdade. Imagine você querendo pegar uma trilha bem bacana em Minas Gerais sendo que você mora em São Paulo? Não adianta ser ciclochato nessa hora, vai ter que apelar pro carro mesmo.

Trilha de mountain bike.
Tem muita trilha legal nesse Brasil imenso. Mas pra chegar nelas, muitas vezes só de carro mesmo.

O que a Pedaleria enfatiza é o uso correto da bicicleta e dos bons costumes de quem pedala, em prol da mobilidade verdadeira e da saúde. Mesmo que o ciclista seja ocasional, ele deve conviver com os outros modais de transporte, e o mesmo acontece com os motoristas e pedestres. A realidade é essa, não adianta ser um ciclochato, basta ser um cicloconsciente, pedale bastante, evite usar o carro o máximo possível, assim você colabora com a diminuição do caos sem deixar de ter um outro tipo de conforto nas mãos.

Vai chegar o dia em que não discutiremos mais sobre o mal que os veículos causam e brindaremos a paz entre as diferentes formas de locomoção. Assim como fazem as abelhas e formigas, que não precisam de semáforos ou sinalizações para transitarem com segurança. É instintivo. Será que chegaremos nesse nível algum dia?

Compartilhe suas experiências com a gente, conte-nos como você faz para usar menos sem ser um ciclochato.

Um grande abraço.

Edu Capivara
WRITTEN BY

Edu Capivara

Edu Capivara é Delegado Internacional do Biketrial no Brasil desde 1991 e introdutor do esporte em meados da década de 80. É amigo pessoal de Pedro Pi, o inventor do Biketrial e de toda a cúpula da BIU (Biketrial International Union) . Profundo conhecedor do mundo da bike, começou suas aventuras em modalidades como o BMX e o Mountain Bike no início desses esportes no Brasil. Já participou de campeonatos mundiais de biketrial pelo mundo todo, inclusive do primeiro, em 1986 na Europa.

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