Você se sente seguro comprando quadro componentes de carbono, usados?

Leves, bonitos e com ótimo preço?

O mercado de usados no ciclismo e no MTB é imenso, é não é só mercado livre e similares, mas também nas lojas físicas, já que muitas delas tem até no site, o setor de usados, com quadros, rodas e componentes em alumínio e carbono.

Tudo em carbono é mais caro, então desconfie de peças e quadros muito baratos, muitas vezes é mais seguro comprar novo em alumínio do que usado em carbono, mas claro, tem muita coisa boa a venda, o importante é saber onde olhar pra reconhecer alguma falha, algum detalhe que represente perigo.

Quando tem uma loja por trás, se responsabilizando pelo componente, pelo quadro, tudo bem, mas comprar pela internet olhando apenas as fotos do produto, não acho muito seguro, esse tipo de compra deve ser presencial, se o artigo é novo, tudo bem, dá pra confiar mais.

Componentes como avanço, canote, guidão, é mais simples, tem poucas partes pra gente inspecionar, mas os quadros tem muitos detalhes.

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AVANÇO

No avanço a gente deve olhar as áreas de esforço, onde vai a espiga do garfo e onde vai o guidão, procurando alguma trinca, sem esquecer da fixação dos parafusos. Dentro do carbono tem uma peça em alumínio, ela recebe os parafusos, a rosca então é em alumínio, verifique se essa peça está bem inserida no carbono, sem folga e com a rosca perfeita, experimente todos os parafusos.

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CANOTES

Os canotes pode ter formas e desenhos variados, modelos onde as peças em alumínio são soltas, e nesse caso, procure trincas nas paredes onde passam os parafusos. Quando o canote tem a cabeça do carrinho inserida no tubo de carbono, procure sinais de descolamento entre os dois materiais, e para qualquer modelo de canote, verifique se existe algum vinco ao longo do seu comprimento, deixado pelo aperto excessivo da braçadeira de selim.

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Pontos a verificar quando a peça é usada.

GUIDÃO

No guidão os estragos podem ser pelo aperto na área do avanço, e também no aperto das manetes e bar ends, porque no carbono o aperto deve ser limitado a uma certa quantidade de Newtons (Nm), esse aperto deve ser feito com um torquímetro.
É comum guidão ou canote rachar no sentido longitudinal quando é apertado acima do limite, eles podem rachar igual a um bambu, então verifique bem esses locais.

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Procure por marcas que indiquem excesso de aperto, isso pode causar trincas.

GARFOS

O garfo é o componente que mais preocupa quando ele é em carbono, porque todo mundo sabe que sua quebra pode gerar um acidente grave, mas não é diferente da quebra do avanço ou do guidão, todos eles causam acidentes graves quando quebram, e essa é a característica do carbono, quebra sem aviso, por isso compre produtos de marcas confiáveis.

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O ponto mais preocupante dessa peça é a espiga, na região de aperto do avanço, o tubo não pode ser muito fino, quando a espiga é em carbono, não pode usar a estrelinha para tirar a folga da caixa de direção, ela pode vincar o tubo por dentro, fragilizando a peça.
Nesse caso a gente usa a bucha expansiva, e se for um garfo de Road Bike, use uma bucha longa, que passe do nível do parafuso inferior do avanço, evitando que a espiga quebre pelo esforço causado durante um Sprint por exemplo.

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Dificilmente um garfo de carbono quebra na junção das pernas com a espiga, mas a utilização da estrelinha no lugar da bucha expansiva, pode danificar a espiga.
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Dificilmente os garfos quebram na junção da espiga com as pernas, quebram geralmente uns 10cm acima da gancheira, mas dê uma olhada geral procurando por trincas, e se o garfo tiver gancheiras abertas, verifique se a estrutura em alumínio que fica por dentro não está solta, e se o carbono não está desgastado na entrada e no aperto da blocagem de roda.

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Na Road Bike, um garfo danificado pode quebrar nas pernas, cerca de 10cm acima da gancheira, outro item que também devem ser verificado. Se for insert em alumínio, verifique a fixação, se for todo em carbono, verifique o desgaste.

Quando o garfo de carbono tem eixo de 12 ou 15mm, ele é mais forte, mais estruturado, mas na fixação da pinça, o processo é o mesmo do avanço, inserts em alumínio com a rosca, então fique de olho nelas, teste com parafusos, uma rosca dessas espanada é um problemão.

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Os garfos com eixos de 12 ou 15mm são mais fortes, e neles verifique o estado das roscas do eixo e suportes de freio.

QUADROS

Nos quadros, sua atenção deve ser redobrada, tem muitos locais para olhar, primeiro aquela olhada geral, só pra verificar se está apresentável, se a gancheira de câmbio está reta, inteira, se não há delaminação aqui na entrada do canote e nas aberturas para caixa de direção, a delaminação é quando as camadas de carbono começam a descolar umas das outras.

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Quando a gente inspeciona um quadro, acaba olhando nos mesmos lugares de sempre, como a gente faz com os quadros de aço ou de alumínio, olha na junção do down tube com a caixa de direção, olha na área dos seat stays com o seat tube, no central, mas os quadros de carbono são compostos por vários pedaços encaixados e colados, e não dá pra ver as emendas depois do acabamento e da pintura, mas são pontos onde podem aparecer as trincas!

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O “kit” de partes e tubos em carbono, é encaixado e colado.
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Depois, com acabamento e pintura, fica difícil localizar as emendas, e nesses pontos podem aparecer trincas.

Os quadros de carbono tem boa resistência a esforço mecânico no sentido longitudinal, mas esforço radial (esmagar o tubo) é prejudicial, portanto cuidado com os quadro e canotes nos suportes de levar a bike no teto do carro ou nos cavalete de manutenção, em alguns deles é possível apertar muito, podendo causar rachaduras nestas áreas.

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Quadros e canotes em carbono não devem ser apertados no sentido radial dos tubos, esse tipo de aperto deve ser feito com moderação. Quando o canote é em alumínio, prenda a bicicleta por ele.

Então cuidado com esses componentes usados, investigue a procedência, peça nota fiscal e vá olhar pessoalmente, assim você pode fazer uma boa compra.

Bom Pedal!

Agradecimentos as lojas Anderson Bicicletas e Grau Total.

Edu Capivara
WRITTEN BY

Edu Capivara

Edu Capivara é Delegado Internacional do Biketrial no Brasil desde 1991 e introdutor do esporte em meados da década de 80. É amigo pessoal de Pedro Pi, o inventor do Biketrial e de toda a cúpula da BIU (Biketrial International Union) . Profundo conhecedor do mundo da bike, começou suas aventuras em modalidades como o BMX e o Mountain Bike no início desses esportes no Brasil. Já participou de campeonatos mundiais de biketrial pelo mundo todo, inclusive do primeiro, em 1986 na Europa.

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